Enxaqueca e Anticoncepcional Oral, os riscos ainda são os mesmos?

A enxaqueca é uma das doenças de maior prevalência na espécie humana, especialmente no sexo feminino. Estima-se uma prevalência de quase 20% entre as mulheres e 6% entre os homens.

Não bastassem os incômodos inerentes às crises (dor de cabeça, náuseas, fotofobia, fonofobia, etc), a doença traz consigo um aumento no risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) – que pode ser duas vezes maior quando comparado às mulheres que não têm enxaqueca.

Um fator de risco importante para AVC em mulheres é o uso de anticoncepcional oral (ACO) com estrógenos. O risco é mais elevado quando o uso do hormônio é feito por mulheres com enxaqueca com aura (aquele aviso de que a enxaqueca está “chegando”).

O perfil mais frequente de paciente que busca auxílio médico por dor de cabeça é: mulher jovem, “enxaquecosa” e em uso de ACO. O aumento do risco de AVC em tal paciente é motivo de grande preocupação para a classe médica. É tema de vários estudos, pesquisas, revisões, discussões, capítulos de livros e aulas de congressos.

Uma publicação de 2017, na revista Headache (um artigo de revisão de Calhoun*) – Hormonal Contraceptives and Migraine With Aura – Is There Still a Risk? – “revisou” vários artigos que tinham como objetivo comum avaliar o risco de AVC em mulheres usando ACO. Usaremos dados desta publicação para discutir sobre esse importante tema.

Os primeiros ACOs surgiram no final da década de 1950, mais precisamente com dose de 150 mcg de estrógeno sintético. Estudos posteriores demonstraram, à exaustão, maior risco de eventos trombóticos relacionados à medicação, que foram por sua vez minimizados conforme as doses foram sendo reduzidas.

O uso dos ACOs foi popularizado no mundo inteiro, e as formulações das pílulas modificadas ao longo das décadas. Dos 150 mcg usados nas primeiras pílulas, chegamos hoje a doses inferiores a 50 mcg (grande maioria dos ACOs).

É bem estabelecida e aceita hoje a relação direta entre a dose de estrógeno usada e o risco de eventos cardiovasculares e AVC. Quanto maior a dose, maior o risco. E essa relação se torna ainda mais perigosa quando aplicada a pacientes com enxaqueca com aura, de forma que é formalmente contraindicado o uso de estrógenos nesse grupo de pacientes.

O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG), em uma publicação de 2010, mostrou o benefício do uso de ACO na prevenção e controle de cefaleias relacionadas às menstruações, mas manteve a recomendação de cautela na prescrição de estrógenos em pacientes com cefaleias e sinais neurológicos focais (incluindo a enxaqueca com aura).

*Calhoun, AH. Hormonal Contraceptives and Migraine With Aura Is There Still a Risk? Headache 2017;57:184-193.

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